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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

VIRTUDES


Nesses teus olhos adormeço meus conflitos

e acendo a chama da mais dócil esperança,

desvendas mundos tão perfeitos, tão bonitos

em que feliz, eu posso alçar minha criança.



Nesses teus mundos não existem os delitos

e a alegria em paz saltita em bela dança,

os sentimentos conturbados, tons aflitos,

são dissolvidos por teus dons de temperança.



Nesses teus dons então mergulho, olhos benditos,

a florescer-me em primavera, em aliança

com que de mais puro há na vida, santos ritos,

santas virtudes, toda bem-aventurança.



Teus olhos, mundos, dons sagrados, sóis dos mitos,

leitos macios em que a alma sonha mansa.


AMARRAS


As brutas vespas das ofensas tuas

ferroam minhas emoções, ainda,

quando despejo-me às lembranças cruas

de um tempo agudo de agonia infinda...



Do tempo em que eu varria teus recintos

imundos, de mentiras, iras, crias

das tuas neuras, teus senões retintos

que me dopavam de ilusões vazias.



Ó Deus! Preciso libertar-me, enfim,

da escravidão daquele amor urgente,

tão mastigado no egoísmo teu.



Mas minha própria origem se perdeu

na entrega plena que eu te fiz, carente,

da minha vida, toda a luz de mim!

FULGORES E AQUARELAS


Então me entranço em tuas cores fulgurantes,


amanhecendo em teus matizes, eu poesio


os versos meus em tuas rimas consoantes,


mergulho estrelas multicores no teu rio.





Depois despejo os meus azuis em teu vermelho


e nestes roxos de uvas fluidas, faço o vinho,


brindo à nobreza de ser, d'alma tua, o espelho,


sim, teus desejos, teus segredos, adivinho.





E na loucura de avivar-me às telas tuas,


eu até roubo, lá dos astros, cores nuas


para solvê-las no brilhar dos teus sentidos.





E sobre ti, eu chovo azul em aquarelas


e verdejando em tuas rosas amarelas,


cultivo os nossos campos vastos, coloridos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O POEMA E O POETA

O poema germina na alma do poeta,

logo liberta-se despido e tão sutil,

e irreversível, sopra a lua, a sua meta,

é rio, é água, é encantado seu cantil.


O poema rodopia-se em torno do poeta,

marcando pleno, lhano e solto seu compasso,

na sua dança em reverência à flor dileta

e beija a arte, desenhando lindo passo.


O poema cede asas à alma do poeta

e seguem a voar, pulsando em dons queridos,

pinturas, sensações, a plástica correta,

lampejos de maestria, rastros coloridos.


Então o poema se recolhe e se aquieta

a conceder sua criação ao seu poeta.

CANTO

Em tua boca encontro notas, canto leve


que flui ao vento, encanta, amplia a minha foz


para que eu, rio, então me espalhe em tempo breve


por estes mares que libertas pela voz.





E nos teus mares lambo, beijo meu algoz


porque não há mais alimento pra o que ferve


dentro de mim, minhas feridas, dor atroz.


Sou renascer na abençoada tua verve...





O teu cantar voa a fazer que se conserve


o mundo em cores, extirpando tom feroz,


e que à poesia nossa vida se reserve.





Em melodias, ventanias, águas, nós


soprando em flocos a grandeza, branca neve,


edificando em maravilhas nosso após.

ESPERA

Eu vou amar-te às revoadas maviosas


pelos jardins a florescerem rosas alvas


vou semear e verdejar as terras calvas


com a alegria de aleluias tão gozosas.





Hei de querer-te à plenitude, sem ressalvas,


no iluminar d'auras, virtudes preciosas,


ser todo o encanto das carícias amorosas


que exalaremos, salpicando em almas salvas.




Falar de amor pra toda gente em verso e prosa,


de tanta paz, tocar a luz da estrela dalva,


extrair cura de singela flor de malva,


fazendo a vida mais e mais esplendorosa.





Só peço a Deus que cuide bem dos meus haveres,


pra que eu espere bem saudável tu nasceres...



PRENDA

Bem devagar, cai do céu um poema,


vem mansamente, um anjinho, tão lento,


paira embalado ao carinho do vento


e traz consigo, nas asas, seu lema:





Sorver do amor e emanar paz suprema!”


Vem a bailar, em sutil movimento,


colhe na brisa, em frescor, o alimento


para cuidar de uma flor, do meu tema.





Esse poema que vaga nos ares


e se aproxima, a sagrar meus altares,


tem, dentro em si, a mais doce encomenda.





Devo ampará-lo, suave, no colo,


para impedir queda brusca no solo,


pois ele traz o meu bem, minha prenda!


O FADO DA SOBERBA

Cala-te! Não me importa a tua opinião,

pois detenho a verdade impoluta e suprema,

as minhas falas fluem como teoremas

tão corretos e isentos de demonstração!”



Menoscabava assim adversos argumentos,

os meus conceitos rutilavam em emblemas,

eram adágios proferidos como lemas,

minha existência era esculpida em monumentos!



Minha presença era qual tela de cinema!

Cessando vozes e moldando sentimentos,

prevalecia a capturar toda a atenção.



Mas ao brilhar tão forte, ofusquei meu esquema,

de tão incandescente, emperrei movimentos,

com cegueira e surdez, vivo em estagnação.