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quarta-feira, 27 de julho de 2011

A NUDEZ

No desnorteio de pairar inebriado


em tua sombra que me veste toda a essência,


eu me serpeio e me misturo no teu fado,


enlouquecido delirando em dissolvência.





Em teu olhar a chama em vela do segredo...


Eu me desvendo em tua rima de assonância...


Nas tuas coisas vivo o meu feliz degredo...


Fixo em meu corpo a tua vívida substância...





E vou voando pelas vagas de tua aura...


Vou lapidando em mim a graça que se instaura...


Enquanto bordas no destino que eu te dei...





Mas na viagem do meu sonho em teus tesouros,


eu conheci, de ti, sombrios logradouros.


E ao desnudar-te a humanidade, eu acordei.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

A FLORESTA ENCANTADA

Paira nos ares, suave, um corcel,

leva nas asas a fada acrobata

que pinga pândega gotas de mel

na terra farta e fecunda da mata.




Junto à lagoa de líquida prata

que acolhe o sol em diáfano véu,

duas sereias deliram o céu,

cantando lindo no som da cascata.




Bem lentamente, levitam as cores

do belo arco-íris, solvido às carícias

doces, faceiras de alguns beija-flores.




Sonho um cenário em magia e delícias!

E eu agradeço ao meu Deus, com louvores,

pois guardo em mim a criança, as blandícias!



LIBERDADE

Eu prossigo na vida à procura de atalhos

para me desviar dos caminhos tão velhos,

necessito da seiva do novo, seus brilhos,

minha porta é sem chave, sem trinco, ferrolhos.




O bom mesmo é fazer da brandura o trabalho,

praticar dia-a-dia as lições do evangelho,

ajustando com passos o rumo do trilho

que conduz para a luz que a servir eu escolho.




Para tanto eu preciso rasgar em retalhos

as mazelas que ferem minha alma com talhos

tão doídos e ardidos, que causam engulhos.




O processo é penoso, é suster-se nos galhos,

mas celebro o triunfo ao frescor dos orvalhos

que desnudam manhãs pelas quais dou mergulhos.



AS CONFISSÕES DA INVEJA

Quantas dores me causam triunfos alheios!

E quanto ódio em refluxos nos nervos golfados!

Dilaceram minh'alma brutais tiroteios

quando alguém faz da vida uns acervos dourados.



O furor me afogando em violentos ondeios,

arde em mim o amarume dos dons torturados,

mas as chagas no corpo me servem de arreios

na labuta à procura de mais fracassados.



Vou seguindo nos vales das sortes inglórias,

arrastando destinos por tortuosas rotas,

a cravar minha adaga em sombrias histórias.



Faço pouso em escuras e sinistras grotas

a tramar as ciladas que roem vitórias,

inda que tal me custe entregar-me às derrotas!

O PREDADOR

Oh sim, repudio o que em mim há de vil...

mas me arde este mal incrustado na entranha!

O nu do meu íntimo assim, tal covil,

abriga, em mil ecos, ardência tamanha!



Oh sim, eu queria saber d’onde vêm

os sopros amenos, suaves, de manha

e tal um anjinho, fluir só o bem,

mas sempre me enredo em ação má, tacanha!



Será que este mal que me vem, dilacera,

o qual eu vomito em impulso e nem sinto,

provém do meu cerne, do gene, é instinto?


Verdade-fogueira que aqui reverbera

e alastra no peito uma chama severa:

Eu sou predador ardiloso e faminto!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O MENINO

Brinca, gira, encanta, ledo menino,

nesta mágica e pássara ciranda

que ora passa a embalar o meu destino

todo em cores e brilhos, tal guirlanda!



O menino está solto nas varandas

dos anseios, tocando áureos sinos

pra que as dores se tornem auras brandas

e eu retome os meus sonhos pequeninos.



Esta criança que agora me comanda

tal maestro angelical de belos hinos,

a abolir meus enleios, desatinos...



Não mais penetrarão os cravos finos

a rasgar-me; ah, atitude tão nefanda...

O menino esparge amor por onde anda!


terça-feira, 12 de julho de 2011

FLORESCÊNCIAS

Então penetro o amor, em sua íntima essência

e encontro a liberdade, a calma e a tolerância

que erguem faustos lares na grandiosa estância

e colhem toda cor do mundo em florescências.




O nobre sentimento, o senhor da coerência,

alterna tom ameno e intensa rutilância

conforme o exclamar do instante, a circunstância,

para salvar quem seca, exaurido em carências.




Por vezes esse amor germina em complacência

e, airoso, ele se emprega à assídua vigilância,

cuidando maternal, solvendo a dissonância

dos atos dos humanos que inspiram violências.




Ele acalanta, manso, um manancial de ânsias

e em paz eu adormeço, num campo de hortênsias...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

FERROS, FARPAS E TRAMAS

Eu sofro alguns socos e golpes de ferro,

que vertem em chagas a pele desta alma.

Eu tento esquivar-me com pulos e berro,

mas eles insistem, macabros, no trauma!



E sangram as marcas de farpa na palma,

a vida num pranto, esquecida em desterro,

e me atam a teias na mais fria calma,

enquanto preparam, cruéis, meu enterro.



Amargo este bruto, funesto e vil drama

nas vezes que falho, cometo algum erro,

aí, intolerâncias me afogam na lama!



Mas vou me livrar - ferro, farpa, de trama -

mostrando pra todos que o homem que erra,

é o mesmo que ampara, que afaga, o que ama.

OS ESPELHOS


                                Estou num recinto cercado de espelhos

que me reproduzem distintos perfis,

em todas as portas, tão duros bedelhos

e eu preso aos semblantes, feliz e infeliz...



Os do alto, severos, me batem com relhos,

no solo, os que imploram a minha raiz,

à frente, os que fazem cair de joelhos;

será qual o foco que mais me condiz?



Diante de imagens me dando conselhos,

eu não sei ao certo o correto matiz;

ah, esses reflexos me enredam a ardis!



Às vezes eu miro os de brilhos vermelhos

em outras, prefiro os que têm tons anis,

mas todos me apontam quem sou e o que fiz!!!